quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Ponto final nas dúvidas do negócio Mitroglou

A intervenção de Luís Filipe Vieira na Assembleia Geral do Benfica já fez correr muita tinta por diversos assuntos polémicos da atualidade, mas não vi nenhum destaque a uma explicação que encerra quaisquer dúvidas que ainda pudessem existir relativamente ao negócio Mitroglou.


De 25 milhões a 15 em meia-dúzia de dias

A venda do ponta-de-lança grego ao Marselha é um caso de estudo da forma como a propaganda e a desinformação funcionam no futebol português. Durante semanas fomos brindados com clássico folhetim "Vieira, o negociador implacável": inicialmente, o presidente benfiquista exigia 25 milhões, depois já se falava em venda por 20 e nem menos um tostão, e, no final, a venda acabaria por concretizar-se por 15 por 50% do passe. Quem tiver interesse, pode recapitular o episódio aqui: LINK.



A cláusula mágica de 12,5 milhões

No entanto, o negócio não deixou os adeptos benfiquistas maravilhados com o poder negocial do Midas português: para além de ser um avançado com características diferentes dos outros que ficaram no plantel, a idade de Mitroglou dificilmente dará um retorno significativo pelos restantes 50%. Daí que, rapidamente, as fontes do costume tenham desencantado uma cláusula mágica, divulgada em primeira mão por Rui Pedro Braz e corroborada pelo Record no dia seguinte: afinal, o negócio garantia ao Benfica um mínimo de 12,5 milhões adicionais, o mais tardar em 2019. Se o Marselha vendesse o jogador por 25 milhões ou mais, então o Benfica receberia metade do valor da transação; se o Marselha nunca o chegasse a vender, teria de indemnizar o Benfica nos tais 12,5 milhões, elevando a venda total para 27,5 milhões.

Obviamente que isto não faz qualquer sentido - só mesmo se os dirigentes franceses fossem loucos é que assumiriam um compromisso tão elevado por um jogador que, sendo bom, nunca na sua carreira esteve perto de valer montantes dessa ordem - e muito menos agora, com 29 anos. Podem ver mais pormenores sobre a cláusula mágica aqui: LINK.


A versão do L' Equipe

No dia seguinte, no entanto, o jornal L' Equipe publicou detalhes sobre o negócio, escrevendo o seguinte:
 "Com falta de dinheiro, o OM contratou-o [Mitroglou] por 15M€, um preço enganador, pois o Benfica ficará com 50% da verba de uma futura transferência. E, se os dirigentes marselheses quiserem comprar essa metade durante os quatro anos de contrato, isso custar-lhes-á 12,5M€. O ponta-de-lança foi, portanto, avaliado pelo clube português em 27,5M€, ainda assim uma bela soma."

Ou seja, segundo a versão francesa, não existe qualquer obrigatoriedade do Marselha em pagar 12,5 milhões adicionais ao Benfica. Têm a opção de compra, mas nada os obriga a exercê-la.

Podem ler mais sobre este ponto aqui: LINK.

Apesar de a versão francesa ser bastante mais credível que a do Record, o jornal português continuou a insistir em como a sua versão era verdadeira.


O esclarecimento de Vieira na AG

Na passada sexta-feira, na AG do Benfica, Luís Filipe Vieira falou sobre o negócio Mitroglou e acrescentou um dado que já tinha sido avançado pelo jornal A Bola no dia seguinte à venda. Aqui está o que foi dito:


Segundo Vieira, existe uma cláusula que garante, na eventualidade de aparecer uma proposta superior a 30 milhões, que o Benfica tenha direito a ser indemnizado em 50% do valor dessa proposta caso o Marselha a aceite.

Ou seja, a obrigatoriedade de o Marselha pagar um valor adicional ao Benfica só se aplica se aparecer uma proposta igual ou superior a 30 milhões de euros por Mitroglou - coisa que, convenhamos, dificilmente alguma vez irá acontecer. Muito longe da versão que se tentou vender por cá, que dava como adquirido que o Benfica iria receber pelo menos mais 12,5 milhões, o mais tardar até 2019.

Por outras palavras, voltámos à casa da partida, ou seja, ao que tinha sido noticiado... no dia em que a venda foi comunicada.


Tudo o que apareceu depois disto na comunicação social portuguesa, foram mentiras para tentar convencer os adeptos do Benfica de que o negócio era irrecusável. Como se vê, tudo isto não passou de uma peça de ficção de má qualidade, mas que, ainda assim, foi um gelado muitíssimo bem aplicado na testa de muita gente.